quarta-feira, 20 de junho de 2012

Senhora

       

 Por vezes, consideramos que a afeição que alguém sente por nós é tão intensa e tão indestrutível que nos sentimos seguros a ponto de nos tornarmos displicentes com as afeições que conquistamos. O tempo passa, vai deixando suas marcas em nós e quando damos conta do que se passa na nossa antiga relação, tão sonhada, tão promissora, percebemos que ela se transformou, arrefeceu, e o que é pior, por nossa culpa. A situação é ainda mais triste quando sentimos que aquela afeição ainda nos é cara, mas que ela mudou de endereço e só nos restaram as lembranças e as obrigações. A mulher sobre quem escrevo pode estar em qualquer um de nós...

Eu sou aquela à qual não foi possível
ser do seu homem mais que mera dama,
cheia de escrúpulos, inatingível,
dona de um reino que acabou na cama.

Deusa já fui, eu fui também rainha;
e quem diria! Eu me tornei escrava!
Ou era pouco o poder que eu tinha
ou era muito o que a ele eu dava.

Tornou-se súdito o amor de outrora

e revoltado planejou um motim:
com a cortesã do reino foi embora!

O meu castelo ruiu, teve fim.

Deusa ou rainha? Não, sou a senhora,
mãe de seus filhos, marcas dele em mim.


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